À conversa com Francisco Bessa, CEO da TripWix

Hoje vamos ficar a conhecer Francisco Bessa, CEO da TripWix, participante no programa de aceleração Discoveries 2016 e mentor no Tourism Explorers. Francisco é um dos membros da Administração do Banco Inversis, em Madrid, e equilibra a sua vida entre as reuniões do banco, a TripWix e a sua vida familiar. Foi jogador de rugby internacional quando era jovem e ainda é treinador. O Francisco é um apaixonado pelo estilo de vida da Península Ibérica – cidade durante a semana e campo aos fins-de-semana.

Hoje vem falar-nos da sua experiência como empreendedor e vem dar-nos a conhecer a sua startup, TripWix, participante no programa Discoveries da Fábrica de Startups.

 

IP: O que é a TripWix e como surgiu a ideia para esta startup?

FB: A Tripwix é uma plataforma digital que tem como objetivo proporcionar férias inesquecíveis, com experiências autênticas em casas espetaculares, deixando memórias para a vida. Para isso trabalhamos com os nossos embaixadores que vivem no destino e que acolhem o cliente e lhe proporcionam uma estadia personalizada e uma visita pelos olhos de um “local”.

A ideia nasceu no México. Um dos nossos sócios estava a passear a cavalo na praia e um turista abordou-o e perguntou-lhe se lhe arranjava uma box para um cavalo na região, uma vez que viajava para o destino com frequência. Mais tarde pediu serviços de property management e depois de arrendamento da sua propriedade. Os conceitos básicos estão todos aqui: uma pessoa local de confiança, que conhece profundamente o destino e que proporciona o que o turista tem dificuldade em encontrar sozinho.

 

IP: Como é que foi a participação no Discoveries e qual foi o impacto na TripWix?

FB: A participação no Discoveries foi muito importante para a TripWix porque nos obrigou a pensar, estruturar e refletir sobre os vários pontos do modelo de negócio de forma estruturada e isso é fundamental quando se está a criar um negócio. Por outro lado, obrigou-nos a testar as hipóteses mais importantes do modelo de negócio de uma forma independente, no próprio mercado, e isso é importante para termos feedback real para as nossas ideias.

Quer pela forma estruturada como nos obrigou a pensar e a escrever o modelo de negócio, quer pelo teste real de mercado que fizemos, foi fundamental para o início da TripWix participar no programa e acho que é fundamental para o início de qualquer negócio passar por este passo.

 

IP: Qual acha que é o maior desafio que os empreendedores enfrentam hoje em dia?

FB: O maior desafio de um empreendedor é sempre o mercado. Duas coisas que são sempre importantes para qualquer empreendedor são o mercado e a sua própria energia para o contrariar, porque no fundo nós nunca estamos a inventar nada absolutamente novo, um empreendedor inventa maneiras novas de fazer as coisas, portanto tem sempre de romper o que está instalado. E normalmente já há um mercado parecido na área de negócio em que nós nos lançámos. Por isso, tem que haver energia para romper com o que está instalado, para vencer o mercado, que é o grande desafio. Pensar de uma forma ordenada, organizar as ideias de uma forma bastante metódica, como se faz no Discoveries, é fundamental.

 

IP: Qual o maior desafio para implementar uma plataforma de turismo de luxo em Portugal?

FB: Os desafios são muitos. A plataforma é de luxo, a empresa é portuguesa mas vende essencialmente fora de Portugal. Conquistar o mercado é o maior desafio.

 

IP: Não tem mercado em Portugal?

 FB: A Tripwix tem mercado em Portugal que hoje em dia representa 14% em volume de vendas e 40% em volume de noites arrendadas. Ou seja, em termos de volume de negócios, 86% é fora de Portugal.

Porque é que escolhemos Portugal? Podíamos ter escolhido o México ou Espanha. Nós escolhemos Portugal por causa da qualidade dos recursos humanos, essa foi a razão principal, não pensámos em questões que podiam ter sido mais importantes como os incentivos fiscais, etc. Isso não pesou tanto na decisão, até porque os outros países tinham mais vantagens. Foi essencialmente a qualidade dos recursos humanos. Os recursos humanos que nós necessitamos, que são profissionais especialmente da área do marketing digital e nas operações, são valências que se encontram em Portugal com bastante facilidade, com boa qualidade e com um custo bastante competitivo.

Quanto aos desafios, o maior desafio é bater o mercado, mas Portugal é um óptimo sítio para se lançar uma plataforma internacional, tem bons recursos humanos e o resto é energia e ideias inovadoras. Mas os desafios são enormes. Uma startup tem sempre muitos desafios porque uma startup tem normalmente recursos muitos limitados mas tem as mesmas necessidades que qualquer outra empresa. Precisamos de uma secretária, não temos dinheiro para pagar uma secretária, precisamos da função de Recursos Humanos porque estamos sempre a recrutar pessoas mas não temos capacidade de ter uma direção de recursos humanos, o mesmo acontece na área financeira, etc. Portanto, a nossa capacidade de nos reinventarmos todos os dias nas mais variadas funções que são necessárias numa empresa, tendo em conta que uma startup tem as mesmas necessidades que uma empresa mais complexa tem, é o grande desafio de uma startup. E Portugal ajuda nesse aspeto, já tive a oportunidade de trabalhar em vários pontos do mundo e, de facto, escolhi Portugal exatamente por isso.

 

IP: Já tinha tido alguma experiência no mundo do empreendedorismo ou a TripWix foi o primeiro passo?

FB: Eu durante muitos anos fui investidor de Private Equity, e nessa experiência de Private Equity alguns dos projetos foram projetos de startups. Não em Portugal, mas fora de Portugal. E por isso já tinha estado na pele de investidor, que agora me parece um bocado mais confortável. Eu digo mais confortável porque é diferente ser o promotor. Mas decidi passar para o outro lado da barreira e ser promotor.

 

IP: Tem alguns conselhos para futuros empreendedores?

FB: Há um conselho fundamental: peçam ajuda no desenho do modelo de negócio. Peçam ajuda a quem sabe estruturar o modelo de negócio, porque toca em todas as teclas e é preciso ter a certeza que não estamos a deixar nada de lado. E segundo, testem com independência as ideias. O empreendedor tem esta característica, por um lado tem de ter energia e autoconfiança para lançar o projeto, senão não consegue lançar o projeto, mas por outro lado, tem de ter a humildade de testar as suas ideias com independência. O meu conselho é que não deixem que essa autoconfiança seja tão forte que os cegue e que os impeça de fazer o teste independente e real das ideias. Isto é fundamental porque se se fizer este teste no início do projecto e as coisas não resultarem, é melhor mudar de caminho no início do que mudar mais à frente, porque mais à frente tem sempre muito mais custos. Façam testes reais.

Por isso, o meu conselho é este: peçam ajuda para as duas coisas, para desenhar o modelo de negócio com quem sabe e para testar as ideias com independência.

 

IP: Planos para o futuro da TripWix?

FB: Nós já estamos em dois continentes e três países, em cinco anos queremos estar no resto do mundo. Além disso, vem aí o Web Summit e nós vamos estar na categoria START, estamos a preparar-nos para isso, que é uma grande oportunidade.