Nuno Dias: “Crescer em época de crise é sempre um risco, mas é onde estão também, muitas vezes, as grandes oportunidades”

Nuno Dias: “Crescer em época de crise é sempre um risco, mas é onde estão também, muitas vezes, as grandes oportunidades”

A MindProber foi uma das startups que viajou connosco, em 2019, para participar na Macau International Startup Week. Para o seu Co-Fundador e CTO, Nuno Dias, o principal objetivo era “tentar estabelecer alguns contactos que permitissem deslocalizar o fabrico dos sensores para a China, de forma a tornar a sua produção mais barata”.

© Ana Oliveira, Fábrica de Startups

© Ana Oliveira, Fábrica de Startups

Fez, recentemente, um ano que viajámos até Macau, com três startups, com objetivos de internacionalização. Uma delas foi a MindProber, uma plataforma de testes de media, em tempo real, fisiológica e comportamental. Na sua bagagem levavam a vontade de deslocalizar a produção dos seus sensores para a China. Que resultados alcançaram? Em que fase se encontram atualmente? Tínhamos muitas perguntas para o Nuno Dias, Co-Fundador e CTO da MindProber.

Da ideia inicial, à ideia atual:

Nuno explica que tudo começou com os seus outros dois sócios: “a ideia é originária do Pedro Almeida e do Pedro Chaves e tinha como objetivo a neurociência do consumo, associada aos estudos de mercado”. A ideia inicial “era fazer isto em laboratório, mas muito rapidamente, na altura, eles perceberam que isto não era escalável por causa dos custos de operação”, conta. Só mais tarde, em 2014, quando conheceu o Pedro Almeida e perceberam que ambos tinham “um conjunto de interesses semelhantes” é que esta ideia foi reajustada: “a ideia era criar-se um negócio ou um produto em que a recolha não fosse feita no laboratório, mas em casa das pessoas”.

 

Pôr a ideia em prática:

Na altura, não sabiam “ao certo o que é que ia ser possível fazer, porque alguns sinais são de aquisição difícil, uma vez que envolvem um setup complicado, como por exemplo o eletroencefalograma”, conta Nuno. Ainda assim, decidiram avançar e colocaram várias pessoas a recolher dados em casa, para perceberem até que ponto é que esta ideia era exequível. Nuno diz que estudaram várias abordagens, até chegarem à “conclusão de que havia dois ou três sinais que eram mais exequíveis neste novo ambiente, que era um ambiente completamente não controlado, um ambiente caseiro”.

 

James 1 e 2:

Desde aí já desenvolvemos dois sensores, o James 1, que é o nosso primeiro sensor, e neste momento estamos a produzir, já há algum tempo, o James 2, que é a segunda versão do nosso sensor”, conta Nuno. Este sensor “mede as variações que a nossa pele tem a nível do micro suor que se acumula na pele, em reação a estímulos”, explica. “Estes estímulos podem vir dos tais conteúdos que estamos a analisar, que podem ser de vídeo, de imagem, de som”, acrescenta Nuno.

 

Como tudo funciona:

Em primeiro lugar, a pessoa tem de ter o sensor, que é emprestado pela MindProber. Nuno conta que este começou por ser parecido com um relógio, evoluiu para uma luva e que, neste momento, é apenas um sensor, bem mais pequeno, que é colocado na palma da mão: “nós chamamos-lhes os elétrodos descartáveis, que são basicamente a parte sensível do sensor, que é aquilo que fica em contacto com a pele da mão”. Tudo isto funciona em sintonia com uma aplicação móvel que “gere toda a aquisição de dados do sensor”, explica Nuno. Depois, a pessoa só tem de se sentar em frente à televisão e carregar no botão para começar.

 

“A publicidade depende muito de tudo o que não é publicidade”:

Nuno diz que em Portugal têm poucos clientes, uma vez que “não há, ainda, um verdadeiro mercado para este tipo de estudos, porque ainda se olha praticamente apenas para as audiências”. “Nós estamos aqui com uma função de suplementar esses dados das audiências com uma informação mais enriquecida”, acrescenta. Nuno diz que não estão aqui para fazer a mesmas coisa, mas para “dar uma camada superior de informação”, que lhes permite dizer, por exemplo, quantas pessoas estão realmente interessadas num conteúdo e/ou quantas delas estão envolvidas com o mesmo, quem vê televisão de manhã, à tarde e à noite e se um determinado canal é ou não o mais adequado. “É esta camada superior de informação que, por exemplo, a maior parte dos nossos clientes que estão no Reino Unido já perceberam e estão a utiliza-la de forma bastante intensiva”, explica. ”A publicidade depende muito de tudo o que não é publicidade”, termina.

 

O primeiro prémio:

Em 2017, a MindProber venceu a Insight Innovation Competition, uma competição de inovação em estudos de mercado. Nuno diz que, na altura, isto foi muito importante, porque foi o primeiro prémio que receberam da comunidade de estudos de mercado. Nuno conta que, ao contrário do que acontece em Portugal, em que não há propriamente este tipo de prémios, no Reino Unido, onde ganharam este prémio, tiveram todos os players deste mercado a olhar para eles. “Foi a primeira vez que nós despertamos a atenção das grandes empresas, das agências de meios e de publicidade, das televisões, das próprias marcas”, explica. Nuno conta que foram “apresentados como uma empresa inovadora, com tecnologias inovadoras”, o que lhes permitiu abrir muitas portas.

 

O investimento de 450 mil euros:

Também em 2017, receberam um investimento de 450 mil euros, que, segundo Nuno, “veio trazer o início de tudo”. “Até então, o que nós tínhamos tido era um investimento muito residual, que nos serviu para fazer o MVP [Minimum Viable Product], mas não tínhamos equipa”, conta. Nuno explica que, na altura, eram quatro sócios, “cada um com a sua área de especialidade, a tentar criar um produto que fosse demonstrável” e foi isso que lhes permitiu construir uma equipa e o produto. “Não vou dizer que é o produto que temos hoje, mas foi a base e isso foi muito importante”, acrescenta. “A MindProber começou realmente aí, enquanto empresa”, conclui.

 

A participação na Macau International Startup Week:

Nuno diz que tem noção que o que os levou a ir a Macau foi, em primeiro lugar, “a proximidade de Macau com a China” e depois “o facto de estar próximo de uma área, onde o desenvolvimento de hardware é muito intenso”. “O meu objetivo era tentar estabelecer alguns contactos que, na evolução que eu previa para a MindProber, permitissem deslocalizar o fabrico dos sensores para a China, de forma a tornar a sua produção muito mais barata”, explica Nuno.

 

Um objetivo em stand by:

Apesar de ainda não terem dado esse passo, Nuno diz que conseguiram fazer alguns contactos interessantes. “Acabei por conhecer uma ou duas pessoas, quando lá estive, que realmente eram contactos importantes nesta possível transferência da produção dos sensores para a China”, explica. Nuno conta que os contactos se desenvolveram e foram avançando, mas com o surgimento da pandemia de Covid-19 “tudo esmoreceu”.

 

Uma fase de contração:

“Nós não tivemos outra hipótese se não contrair, quer a nível de operações, quer a nível do número de pessoas”, conta Nuno. No entanto, diz terem conseguido superar este momento mais difícil: “eu acredito, sinceramente, que estamos numa fase de recuperação não plena, mas de recuperação”.

Arriscar, mesmo em tempos de crise:

Para Nuno, a “capacidade de arriscar e de crescer, mesmo em tempos de crise, é crucial”. “Acho que a MindProber está a conseguir fazer isso”, explica. “Acho que está a ter uma atitude que tem algum risco associado, isto é, crescer em época de crise é sempre um risco, mas é onde estão também, muitas vezes, as grandes oportunidades”.

Entrevista feita por:

Rita Frade, Coordenadora de Marketing e Comunicação da Fábrica de Startups