André Faria: Top 8 - Os novos comportamentos do turista
© Ana Oliveira, Fábrica de Startups
Escrevo-vos nesta segunda-feira (31 de Agosto de 2020), ainda de Agosto, mas já com sabor a Setembro. A primeira semana de Setembro tem sempre aquele gosto a início de um novo ciclo. No entanto, este ano, Setembro traz muita incerteza, alguma insegurança e, ainda, medo.
Estive uma semana de férias no Algarve e regressei hoje. Fazer turismo já não é o que era. A pandemia obrigou-nos a remarcar os planos que já tínhamos, a repensar os sonhos a curto-prazo e, principalmente, a mudar os nossos comportamentos. Hotel ou alojamento? Urbano ou rural? Com ou sem varanda? Jardim? E o ar condicionado? Pode-se usar, mas não se deve usar, mas pode-se usar…
A Comissão Europeia lançou, recentemente, um relatório que nos dá conta de que o comportamento do turista mudou no curto-prazo e que irá continuar a mudar no médio-prazo. A maioria dos turistas diz que, enquanto não houver uma vacina ou tratamento para o COVID-19, será difícil viajar sem medos e restrições.
Será que voltaremos ao turismo como ele era? Será esta uma oportunidade de repensar o turismo e redesenhá-lo, evitando alguns problemas identificados antes da pandemia?
Numa altura em que tenho em mãos a organização do Tourism Explorers, o maior programa de criação e aceleração de startups de turismo, partilho com vocês uma reflexão e pesquisa que fiz sobre os novos comportamentos dos turistas.
Viajem comigo e digam-me que tipo de turista são!
Evitar Aviões
Foi um dos setores mais afetado com a pandemia, enfrentando um decréscimo de cerca de 80% e, tão cedo, não parece que volte ao que era. O medo de estarmos fechados num recinto pequeno com um conjunto de pessoas a tossir e espirrar não inspira confiança. Por outro lado, o risco de os voos serem cancelados e os constrangimentos que daí advêm, fazem com que o turista pense em alternativas: os comboios (muito comum no centro da Europa, com interligações entre vários países) e o carro (em Portugal e Espanha, onde, pelo menos no Algarve, havia muitos espanhóis que calculo que tenham utilizado o carro). Alguém pegou no carro e foi até Paris, como se fazia “no antigamente”?
Marcar com Pouca Antecedência
A incerteza faz com que as férias sejam marcadas com menos antecedência, de forma a minimizar o risco de cancelamentos ou novas regras de confinamento. Neste sentido, apesar dos preços mais elevados, o turista põe em primeiro lugar a segurança. Um recente estudo do Grupo Trip.com e da Google indica que 80% das suas marcações passaram de uma média de 36 dias de antecedência para 4 dias de antecedência, na marcação de destino de férias. O turista procura, agora, viajar com maior flexibilidade e, por isso, dá valor à política de reembolso, cancelamentos gratuitos e inclusão de seguros de viagem.
Seguro de Viagem
Entramos assim no 3º comportamento que se começa a verificar que é a compra de seguros de saúde e seguros de viagem, principalmente para quem viaja de avião, ou para maiores distâncias. Aquilo que normalmente era percecionado como publicidade relativa a seguros de viagem, de repente passa a ser essencial, com um aumento de procura e um destaque antes inexistente. Há uma estimativa que 25% a 30% dos turistas passem a comprar um seguro de viagem, principalmente em viagens de avião.
Comentários Atualizados
Conhecidas como “reviews”, a sua importância nunca foi tão valorizada como atualmente. Seja para escolher um hotel, um alojamento local, um restaurante ou um aluguer de caiaques, os comentários recentes vão ser cruciais na escolha no turista. Aquilo que eram 4 estrelas de limpeza do apartamento pré-covid será agora escrutinado aos novos padrões de higiene e limpeza. Este é um dos critérios que os hotéis e alojamentos terão de considerar como determinantes na escolha do turista. Algum de vocês ganhou o hábito de desinfetar as maçanetas das portas? #guilty
Viajar Localmente
O turismo nacional tem sido uma das maiores tendências avançadas logo no início da pandemia e que se confirma agora que se aproxima o fim do verão. Ainda sem dados oficiais sobre o comportamento do turista na Europa neste sentido, a porta-voz do TripAdvisor explica que “a recuperação do turismo começa primeiro internamente”, antes de se aventurarem noutros territórios. Esta é também uma oportunidade para reduzir algumas assimetrias geográficas no que diz respeito ao turismo. É o chamado “vá para casa, cá dentro”. Recomendo: Pitões de Júnias (Gerês) e os Trilhos da Costa Vicentina, pequenos tesouros escondidos.
Escolher o Rural
O Turismo Rural tem aqui uma oportunidade para o seu desenvolvimento, uma vez que o turista procura destinos fora das zonas urbanas e das grandes massas. Cidades como Nova Iorque, Roma e Paris vão sofrer algumas alterações no fluxo turístico, mas, por sua vez, outras regiões mais rurais terão oportunidade de ascender. Pequenas vilas, moradias rurais, ecoturismo, glamping são alguns modelos de alojamento que terão oportunidade de se destacar comparativamente ao alojamento tradicional.
Realizar Atividades Ao Ar Livre
A procura de atividades ao ar livre e em contacto com a natureza é apontada como um dos principais critérios de seleção de destinos turísticos. Apesar de em Portugal ainda termos muito um turismo associado à praia, esta é a oportunidade de explorar outros destinos do interior, com recurso a lagos, praias fluviais e cascatas. As caminhadas, atividades de yoga, picnics e passeios de barco são algumas das atividades que se irão sobrepor aos parques aquáticos, noites de cinema ou compras em centros comerciais.
Comprar Take Away
Confesso que os restaurantes no Algarve estavam cheios, mas quase todos tinham a hipótese de take away. Esta é uma verdadeira revolução no setor da restauração, que tem ainda alguma adaptação a fazer a este novo paradigma. Há quem prefira comer em casa, com os seus talheres, lavados pelos próprios, e sem as pessoas a tossir ao lado no restaurante. Com esplanada ou sem esplanada, os restaurantes estão a recuperar os meses perdidos durante a pandemia, mas é urgente agilizar os processos de take away e facilitar o acesso aos turistas.
Neste momento as incertezas são maiores do que as certezas, mas a verdade é que não conheço ninguém que não tenha feito férias este verão (e vocês?). Os turistas continuam a existir e continuamos com vontade de explorar novas culturas, paisagens e vivências. No entanto, todos os negócios relacionados com o turismo terão de conhecer o “novo turista”.
Quem são agora os meus clientes? O que procuram agora os turistas? E que tipo de turistas são? O que valorizam? É necessário repensar todos os negócios na perspetiva dos novos comportamentos. Se as motivações e comportamentos mudam, os negócios terão também de mudar, de forma a dar resposta a esta nova necessidade. Existem novos problemas para resolver, para os turistas e para os negócios ligados ao setor.
Por isso, vou voltar à minha rotina de promoção do Tourism Explorers, em articulação com 12 cidades, com o objetivo de descobrir novas ideias, projetos inovadores e empreendedores com garra para fazer renascer o turismo. Um novo turismo, com novos desafios e novas oportunidades. As inscrições estão abertas até 7 de outubro e a participação é gratuita, não há desculpas! Toda a informação em tourismexplorers.pt.
Texto escrito por:
André Faria, Operations Manager na Fábrica de Startups