Como a pandemia ajudou a Bloq.it a acelerar a mudança no seu business model, a entender os fatores diferenciadores e a evoluir a tecnologia
A Bloq.it é mais um dos casos de sucesso do programa de aceleração Tourism Explorers. Durante a última edição do Web Summit foi eleita pelo público a startup mais inovadora e, mais recentemente, foi fechada uma parceria com a Sonae Sierra, para que os seus cacifos sejam colocados no Centro Comercial Colombo, de forma a que os clientes possam fazer compras nas lojas do mesmo, sem terem de entrar ficar em filas ou interagir com pessoas.
© Ana Oliveira, Fábrica de Startups
Fundada em 2019, por João Lopes, Miha Jagodic e Ricardo Carvalho, a Bloq.it é uma startup que desenvolve tecnologia para cacifos inteligentes. Mas, como é que surgiu esta ideia? Em que locais podemos encontrar estes cacifos? Que desafios teve a Bloq.it de enfrentar nos últimos tempos? João Lopes conta-nos tudo, nesta entrevista.
Cacifos inteligentes: a origem
Segundo João, a ideia inicial de colocar cacifos nas praias partiu de um dos co-fundadores da Bloq.it, Miha Jagodic: “eu estava a participar num programa de empreendedorismo nos Estados Unidos, quando conheci um dos nossos Co-Founders, que é da Eslovénia, e ele tinha esta ideia de colocar cacifos em praias, porque quando vamos à praia, temos sempre de levar a mochila, a carteira, entre outras coisas”. “Ele achava que havia ali uma oportunidade de negócio, mas a ideia que ele tinha era pouco escalável”, explica. Então, a ideia foi adaptar o sistema das scooters elétricas, que na altura eram uma novidade, a um sistema de cacifos: “em vez de termos scooters espalhadas pela cidade, temos cacifos onde as pessoas mais precisam deles e, através de uma aplicação móvel, conseguimos usar esses cacifos para guardarmos as nossas coisas ou deixarmos o telemóvel a carregar ou o quer que seja”. “E em menos de um ano, depois de a ideia ter nascido, já tínhamos dois cacifos colocados em praias portuguesas”, acrescenta João.
Das praias aos centros comerciais, a festivais e a eventos privados
“Quando entrámos no mercado das praias, já estávamos quase no final da época balnear e, portanto, não fazia muito sentido ter os cacifos na praia”, explica João. Então, tiveram de começar a tentar perceber quais seriam os outros locais, onde poderiam oferecer este serviço, para conseguirem “ter rentabilidade do equipamento durante o ano todo”. Para além disso, João conta que quando entraram no mercado das praias, também receberam muitos contactos, de diferentes tipos de negócios, a perguntar se faziam este serviço “numa ótica de B2B [Business to Business], ou seja, desde centros comercias, a eventos, a farmácias, todo o tipo de coisas”. “Ao recebermos este feedback, começámos, então, a fazer brainstorming sobre como é que poderíamos aplicar isto [cacifos inteligentes] a uma ótica mais B2B”, explica João. “Depois, fizemos vários pilotos nos meses seguintes, ou seja, testámos isto em festivais de música, chegámos a colocar isto no centro da cidade, em Lisboa, em eventos privados, para tentar perceber também quais eram os mercados mais interessantes”, acrescenta.
Tourism Explorers: uma experiência interessante
João explica que decidiram participar no Tourism Explorers, porque coincidiu, precisamente, com o final da época balnear, altura em que estavam a tentar perceber quais seriam os próximos passos: “o que nós aprendemos no programa foi útil em termos de modelos de negócio, em termos de mercados”. “Também achei muito útil a questão do networking, porque apesar de nós nos termos afastado da área do turismo, acabei por conhecer pessoas que acho relevantes e que depois acabaram por ser úteis”, acrescenta João. “Toda a experiencia do programa é bastante interessante”, conclui.
Bloq.it: a startup mais inovadora do Web Summit
Em 2019, a Bloq.it foi uma das startups selecionadas para participar no concurso de pitch do Web Summit. João conta que ficaram nas semifinais desse concurso, mas ganharam um outro, que lhes deu o título de startup mais inovadora do Web Summit. “Foi, de certa forma, uma validação do nosso conceito e foi algo que, na altura, obviamente, ficámos contentes por ganhar”, explica.
A pandemia como acelerador da mudança
João conta que a pandemia ajudou a acelerar a mudança que já tinham no seu business model: “nós já estávamos a começar a mudar para o B2B e aquilo que a pandemia fez, de certa forma, foi obrigar-nos a tentar perceber qual era o fator mais diferenciador da nossa solução”. “E foi aí que chegámos ao estado onde estamos atualmente, em que percebemos que o software que nós usamos, a tecnologia que nós desenvolvemos para os nossos próprios cacifos é uma das coisas que mais falta faz nesta indústria dos cacifos inteligentes”, explica João.
Ajustar a oferta
João diz que, no fundo, acabaram por adaptar a sua oferta à nova realidade: “um dos primeiros negócios B2B que fechámos foi uma parceria que fechámos com a Sonae Sierra para colocar cacifos no Colombo, exatamente para esse propósito, para as pessoas poderem comprar objetos nas lojas, sem terem de entrar lá dentro e ficar em filas, interagir com pessoas, etc.”, explica. “Portanto, nós acabámos por ajustar um pouco a oferta que já tínhamos à situação atual, porque, nós já tínhamos a tecnologia desenvolvida, mas não estava a ser usada com este foco em especial, por exemplo, de as pessoas não estarem em contacto umas com as outras”, conclui.
Os principais desafios e oportunidades dos novos empreendedores
João acredita que “houve algumas dificuldades que foram criadas, porque apesar de muitas startups trabalharem no digital, que acabou por ser uma indústria que não foi tão afetada, houve muitas startups que trabalhavam em indústrias que foram mais afetadas, como o turismo, o que obrigou a uma maior adaptação por parte destas startups”. “De certa forma, eu também acho que se acaba por criar uma oportunidade, principalmente para startups, porque estas acabam por ser muito mais flexíveis, do que as empresas grandes”, acrescenta. “Quando há uma mudança destas, de repente criam-se muitas necessidades e eu acho que, tanto empresas que ainda vão nascer, como empresas que já existem e que estavam numa fase ainda early stage, a tentar perceber o que é que podiam fazer, de repente tiveram ali algumas janelas de oportunidade novas e, para além disso, têm muito mais flexibilidade para se mexerem rápido, do que uma empresa grande”, conclui João.
Um futuro cheio de novas tendências
“Nós agora estamos a fechar uma ronda de investimento nova, uma seed round, que vai permitir expandir a equipa e também acelerar um pouco o development”, revela João. Para além disso, “nós estamos a trabalhar em algumas propostas, muito interessantes, para B2B, uma vez que há muitas empresas que pretendem ter soluções para este problema”, acrescenta. “Ou seja, menos focado na questão inicial que tínhamos, que era as pessoas guardarem os seus objetos, e mais focado nas novas tendências que foram aceleradas pelo Covid, desde os cacifos, por exemplo, para recolher encomendas, cacifos para troca de objectos sem contacto”, explica.
Entrevista feita por:
Rita Frade, Coordenadora de Marketing e Comunicação da Fábrica de Startups