Guilhermo Queiroz: o nosso modelo de negócios "não é único, mas é peculiar"

Guilhermo Queiroz: o nosso modelo de negócios "não é único, mas é peculiar"

Este mês estivemos à conversa com uma das vencedoras da 2ª edição do programa de aceleração Blue Bio Value, a Biosolvit, uma startup brasileira que reaproveita resíduos de palmeira, desperdiçados, para criar novos produtos.

© Biosolvit

© Biosolvit

Sabias que, no Brasil, as fábricas de palmito apenas aproveitam 3% de uma palmeira e que o resto é deitado fora? Foi isso que Guilhermo Queiroz descobriu quando foi visitar uma dessas fábricas. Para acabar com esse desperdício criou, em 2017, a Biosolvit. Atualmente produz xaxim de palmeira (um vaso de planta ecológico) e vários produtos destinados à absorção de qualquer derivado do petróleo.

A fonte de inspiração:

Guilhermo conta que tudo começou com o pai, que durante muitos anos trabalhou numa fábrica de palmito, uma iguaria muito apreciada no Brasil: “ao ver os resultados obtidos nesta área, resolvi montar há uns anos atrás uma fábrica de palmito, como um plano B para a minha vida profissional”.

Nada se perde, tudo se transforma:

Para isso, decidiu ir conhecer uma fábrica de palmito e ver como é que funcionava. Durante a visita percebeu que apenas 3% de uma palmeira era utilizado para a produção de palmito. “Os outros 97% eram deitados fora”, diz o CEO da Biosolvit. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma empresa que reaproveitasse esse resíduo desperdiçado e criasse novos materiais.

O nascimento de uma startup:

“Nós criámos a Biosolvit com o intuito de ser uma empresa de pesquisa e desenvolvimento, mas a certa altura percebemos que iríamos precisar de industrializar os produtos que criávamos”, explica Guilhermo. “Foi aí que nasceu a nossa startup, porque o meu dinheiro não dava para fazer pesquisa, desenvolvimento e instalação industrial”, continua. “Precisava de investimento”, diz o CEO da Biosolvit.

O xaxim de palmeira:

O primeiro produto que criaram foi um vaso de planta ecológico, feito a partir de fibras das palmeiras: xaxim de palmeira. Guilhermo explica que “no Brasil as pessoas utilizam vasos de xaxim para plantar as suas flores ornamentais em casa”, mas o uso descontrolado desta planta levou a que o governo proibisse o seu corte e exploração. Foi aí que percebeu que se utilizasse a fibra das palmeiras descartadas para fazer vasos, eles iriam ficar idênticos aos vasos de xaxim.

A necessidade de criar novos produtos:

Mas, “não podia ter uma empresa com um só produto”, diz Guilhermo. Então, pegou nas fibras das palmeiras e levou-as para universidades, para que estas pudessem pesquisar e criar novos produtos. Foi aí que conheceu o Wagner Martins, atual Diretor Comercial da Biosolvit, que na altura estava a desenvolver um absorvedor de petróleo, utilizando as fibras das palmeiras como um dos componentes da sua fórmula. Começaram a trabalhar juntos, a participar em eventos, a conquistar vários prémios até que, finalmente, captaram o investimento necessário para levar o negócio para a frente.

Biosolvit, Biogreen e Bioblue:

Hoje, a Biosolvit está dividida em três áreas: “a Biosolvit, tal como o nome da empresa, trata da pesquisa e desenvolvimento, a Biogreen dos produtos de preservação da flora e a Bioblue dos produtos para preservação das águas”, explica Guilhermo. “Na Biogreen para além deste vaso ecológico, produzimos também terra vegetal e na Bioblue uma barreira de absorção de petróleo e uma gama voltada para indústrias, como filtros”, acrescenta o CEO da Biosolvit.

A dificuldade em entrar no mercado:

Guilhermo confessa que o seu modelo de negócios “não é único, mas é peculiar”, uma vez que é “muito mais difícil de ser copiado do que o de outras startups. “A nossa entrada no mercado é muito mais custosa e a necessidade de investimento muito mais alta, então a nossa barreira de entrada no mercado é muito grande, mas para os meus concorrentes também”, explica Guilhermo. “O meu negócio tem muito mais cara de projeto de longo prazo, do que uma startup tradicional” acrescenta.

 

Resoluções de ano(s) novo(s):

Sobre o futuro da Biosolvit, Guilhermo diz que o objetivo “é ser uma empresa com presença internacional” e não apenas uma “empresa que exporta”. Para isso, reconhece que precisa de fazer uma nova ronda de investimento, depois da ronda que levantaram agora (perto de quatro milhões de euros).

“Não cries negócios”:

Para quem está agora a começar, Guilhermo diz que o seu conselho é sempre: “não abra, você vai quebrar a cara”. O CEO da Biosolvit explica que “desencoraja as pessoas”, porque nesse caso apenas “sobram aqueles que realmente querem ter o seu próprio negócio”. “Se a pessoa for suficientemente apaixonada pelo que faz, suficientemente louca para ir para a frente, tem uma grande probabilidade de ser bem-sucedida”, acrescenta.

Blue Bio Value - Parcerias à vista:

Relativamente ao programa de aceleração Blue Bio Value, Guilhermo diz que é uma “porta muito importante de entrada para os projetos”, que lhes permitiu fazer a ponte com a Biocant (parque científico português inteiramente dedicado à biotecnologia, que os está a ajudar a instalar a Biosolvit em Portugal). Guilhermo acrescenta, ainda, que o programa foi muito importante pelo facto de ser “voltado para a preservação da vida marinha e dos oceanos”. “Quando se dá um carácter específico a um programa, consegue-se trocar informações muito mais valiosas”, explica.

Sobre o facto de terem sido um dos vencedores da 2ª Edição do Blue Bio Value, Guilhermo diz que o dinheiro os vai ajudar a operar aqui em Portugal, mas que “o mais importante é, sem dúvida, o reconhecimento”.

Entrevista feita por:

Rita Frade, Coordenadora de Marketing e Comunicação da Fábrica de Startups