Chic by Choice: “As startups são um conjunto de perguntas que têm de ser respondidas todos os dias”

Foi notícia na Forbes e no The Guardian e está a fazer sucesso em Portugal, no Reino Unido e noutros 10 mercados europeus. A Chic by Choice, um site de e-commerce que pretende colocar produtos de luxo ao alcance de todos através do aluguer por 15% do preço de venda, é uma das startups mais bem sucedidas no ecossistema nacional. Não é a primeira empresa de Filipa Neto e Lara Vidreiro e por isso a Chic by Choice é o resultado de um percurso de aprendizagem. A cofundadora Lara Vidreiro partilhou com a Fábrica de Startups algumas lições e conselhos úteis para outros empreendedores.

 

FACTBOX

Nome da startup: Chic by Choice (www.chicbychoice.com)

Fundadoras: Filipa Neto e Lara Vidreiro (24 anos)

Data de criação: fevereiro de 2014

Equipa: 6 pessoas full-time

Sede: Lisboa e Londres (com clientes em 11 mercados da Europa)

Investimento angariado: 520 000 €

Investidores: Faber Ventures, Portugal Ventures e The Edge Group

Portfolio online: 700 vestidos de mais de 50 marcas

  

Fábrica de Startups: O que é exatamente a Chic by Choice?

Lara Vidreiro: A Chic by Choice pretende ser um marketplace de aluguer de produtos de luxo. É esta a nossa visão. Começámos com vestidos, para já, para introduzir o conceito, mas o nosso objetivo é tornar acessível a qualquer mulher o aluguer de todos os produtos de moda que ela ache razoáveis (acessórios, clutches, jóias, sapatos) a preços consideravelmente mais baixos que o preço de venda. Como vamos fazer isto? Criando este marketplace, em que estamos a trabalhar, através de parceiras com boutiques, com marcas, diretamente, e com sites de e–commerce, de forma a podermos usar o stock que eles têm e não estão a usar e produtos que não estão a ser escoados.

Como é que o projeto começou? Porquê criar uma startup e porquê a Chic by Choice?

Isto começou quando eu e a Filipa ainda tínhamos 20 anos. Tivemos a ideia e decidimos participar no Acredita Portugal, o maior concurso de empreendedores em Portugal. Acabamos por conseguir o 2º lugar entre 3000 participantes e a verdade é que isso acelerou todo o processo e decidimos focar-nos na empresa (nós ainda estávamos na faculdade). Na altura ainda desenvolvíamos a nossa primeira empresa – a Chic by Choice é o nosso segundo projeto –, focada apenas no mercado ibérico e com um outro modelo de negócio. Depois dessa experiência, e com todo o know-how que tínhamos adquirido, percebemos que queríamos outra coisa, ainda que na mesma área, mas com um modelo de negócio diferente, com menos risco de stock.

Quais são as principais diferenças?

Antes, comprávamos os produtos todos e deixávamo-los à escolha das clientes. Agora, as clientes dizem o que querem e nós compramos consoante o que elas escolherem e quando querem. Isso diminui o risco do nosso lado e damos às clientes exatamente o que elas pretendem. Outra grande diferença estava no investimento. O primeiro projeto foi financiado por um business angel mas percebemos que não era o que pretendíamos e com a Chic by Choice já recorremos a fundos de investimento.

Quais foram os primeiros passos que tomaram para por a ideia em prática?

No nosso caso, entrar no concurso foi muito importante porque duas razões: durante esse período conseguimos testar e validar o modelo de negócio; e ainda contámos com a ajuda de mentores com mais experiência que nós que orientaram o processo. Aceitámos algumas sugestões, outras vezes batemos o pé e seguimos a nossa vontade. Estar no concurso significou uma certificação importante e estamos certas de que um concurso ou um programa de aceleração são determinantes para uma startup. Ao mesmo tempo fizemos testes de mercado, andámos pelas ruas da Baixa de Lisboa a fazer inquéritos e só depois procuramos o financiamento. Com este novo modelo de negócio, fez todo o sentido nos juntarmos à Faber Ventures: por um lado, devido ao investimento disponibilizado, por outro, sabíamos que tinham um vasto conhecimento de negócios online e isso está a ser uma mais valia para a Chic by Choice. O passo seguinte foi a criação da empresa.

Quais são os melhores truques no momento de procura de financiamento?

Não há truques mas deixo um conselho que pode ser decisivo: dar um prazo a nós próprios. Eu e Filipa assumimos que, se em 6 meses não angariássemos o investimento pretendido, íamos à nossa vida. Isto dá-nos uma noção temporal e obriga-nos a testar o projeto: se ele for bom, 6 meses são suficientes. Depois, nós costumamos dizer que a sorte dá muito, muito trabalho. Nós estávamos no sítio certo e na hora certa, mas isso pressupõe muita preparação antes. Essa é uma das armas que nós, duas jovens, mulheres, utilizamos. Preparávamo-nos a dobrar para cada reunião, mandamos muitos emails e nunca tivemos medo de ouvir um não. Não se deve ter medo. Enviem emails, peçam contactos às pessoas, não tenham medo de procurar o administrador de determinada empresa, procurem a melhor forma para lá chegar. Se um projeto tiver vendas asseguradas – e o modelo validado – alguém vai querer investir. Façam um esforço para bater nas portas certas, sabendo que não têm de ir a 50; vão àquelas que têm o fit e mostrem-lhes por que é que eles haveriam de investir em vocês.

Ser jovem e mulher é um entrave?

Sim, são entraves, mas já começam a ser menores. Nós combatíamos isso com preparação e nunca dizíamos a nossa idade antes das reuniões. Temos de provar 10 vezes mais mas, depois de termos conseguido, tudo sabe muito melhor.

Depois do financiamento, quando começaram a desenvolver a plataforma?

A empresa foi fundada em fevereiro do ano passado com estas três entidades: Faber Ventures, Portugal Ventures e The Edge Group. Começámos a trabalhar em março e em 3 meses lançámos a Chic by Choice. Foi um trabalho muito intensivo. O lançamento oficial aconteceu num evento da indústria da moda e tecnologia em Londres, que nos permitiu testar logo a reação do mercado e ganhar a atenção da imprensa. Pouco depois a Filipa foi para o Reino Unido e tem trabalhado a partir de lá no desenvolvimento de parcerias e no marketing.

O objetivo sempre foi estender o projeto a outros mercados?

Sim.  Sobretudo devido à penetração de e-commerce, porque não há comparação entre valores do Reino Unido e de Portugal e Espanha. Sabíamos que o Reino Unido era o mercado certo para testarmos o negócio, seguimos depois para França e Alemanha e, neste momento, em 7 meses de atividade, já mandamos vestidos para mais de 11 países a nível europeu - sendo que 95% dos alugueres são para fora de Portugal.

Qual é o vosso principal foco neste momento?

Estamos muito focadas na segunda fase de investimento que arranca agora; estamos centradas em manter o nível de crescimento de 30% ao mês, porque queremos que estes valores se mantenham; trabalhamos para a satisfação dos nossos clientes; e, nesta fase, começamos a construir a base do marketplace, a plataforma e algumas parcerias. A segunda ronda de investimento servirá para desenvolver essa plataforma, muito exigente do ponto de vista tecnológico.

O vosso percurso é muito positivo mas com certeza já tiveram momentos maus. Quais foram as maiores dificuldades?

Eu acho que as maiores dificuldades estão relacionadas com a otimização do modelo de negócio e com a adaptação ao que os clientes querem, com o risco de stock. Quando o investidor nos diz “isto não chega”, nós temos de ir para casa e descobrir o que se pode fazer para minimizar o risco de stock. Esses momentos são os mais difíceis de ultrapassar mas é quando repensamos tudo, e isso é importante.

Esta é a vossa segunda startup. Que lições tiraram dessa primeira experiência?

Uma startup é um conjunto de questões que têm de ser respondidas todos os dias e temos de ter capacidade de adaptação porque a resposta pode não ser aquela que nós esperávamos. O ritmo é muito elevado e o produto desenvolve-se todos os dias. Pelo caminho aprendemos a gerir expectativas: devemos ter noção de que custa sempre mais dinheiro e é sempre mais demorado e exigente do que nós estamos à espera. Aprendemos que o networking é fundamental e que testar o modelo de negócio é imprescindível: temos de dar às pessoas o que elas pedem e não tentar adivinhar o que elas querem. Depois, percebemos que criar a equipa de raiz e tê-la dentro de casa é determinante. Começámos a trabalhar em regime de outsourcing e concluímos que, se num restaurante temos de ter o cozinheiro connosco, neste negócio tínhamos de ter sempre por perto, diariamente, alguém que conseguisse desenvolver a plataforma – não queríamos ser só mais um projeto dependente da execução de outros.

O que acham que fizeram mesmo bem? Qual foi o momento decisivo em que sentiram que “é mesmo isto”?

Quando redefinimos o modelo de stock: esse foi o momento que nos fez mudar de um para outro projeto e de pensar “onde é que nos vamos meter? nunca ninguém fez isto!”. E, por outro lado, se isto resultar vai ser a sério.

Como é que veem a Chic by Choice em 3 anos e qual é o maior objetivo?

Criar o marketplace e criar um revenue share model. Isto quer dizer que vamos deixar de ter o risco de stock e seremos apenas uma plataforma de logística em que todos os retailers, todas a marcas e boutiques podem por produtos para serem alugados. Queremos ser uma Farftech de aluguer.